Uma pequena descoberta, um grande passo para a cura do Câncer


A morte do câncer. (Selanegra/Tribune) 
Não é novidade que a luta contra o câncer ainda se mostra um desafio, mas com o avanço da ciência e surgimento de várias abordagens para tentar solucionar esse problema, encontrou-se uma nova forma de caracterizar as células de células-tronco do câncer durante o tratamento.
Um dos problemas que mais persistem são os tumores extremamente heterogêneos, que tem células cancerígenas altamente resistentes às terapias atuais, e estas contribuem para a reincidência da doença além de serem potencialmente capazes de retornar as características heterogêneas do câncer.  O estudo dessas células ainda é um obstáculo pois há falta de ferramentas para isolá-las das células normais e para realizar seu estudo de forma definitiva. 
O trabalho mais recente usa a inclusão paralela de primers direcionados para transcritos específicos de mutação para identificar células de câncer e aplicam sequenciamento de RNA de célula única para caracterizar células que persistem em indivíduos com leucemia mielóide crônica (LMC), os quais  são tratados com inibidores de tirosina cinase (TKIs). A implementação bem sucedida é um marco importante promessa e dos desafios da terapia de câncer molecularmente direcionada. Contudo,  nem tudo é perfeito: apesar da eficácia demonstrada, apenas uma minoria conseguiu acabar a terapia com sucesso, e isso pode ser explicado porque  os demais não têm a capacidade de controle imunológico sobre a sua leucemia ou porque ainda há células cancerígenas resistentes. 
A ideia do estudo dos autores é isolar as células cancerígenas que persistem após a terapia para a realização de uma caracterização molecular mais completa destas e a obtenção de informações sobre como eliminá-las. Entretanto, isto torna-se um grande desafio, uma vez que não há como separar algumas células-tronco de câncer em meio a uma grande quantidade de células normais, já que ambas expressam concomitantemente o marcador de células CD34 e não expressam o marcador CD38 (Lin-CD34 + CD38-) o que  dificulta a diferenciação entre elas. Para solucionar esse entrave, os autores identificaram duas subpopulações principais de células-tronco LMC: as definidas por uma assinatura proliferativa e aquelas com comportamento quiescente, sendo estas capazes de proliferação seletiva durante o tratamento. A subpopulação com comportamento quiescente possui assinatura diferente quando comparada a células-tronco proliferativas de LMC não enriquecidas durante o tratamento, células-tronco BCR-ABL-negativo do mesmo paciente em tratamento ou de células-tronco hematopoiéticas normais. Esse tipo de célula LMC, teoricamente tem o potencial de cessar o estado “inerte” e impulsionar a expansão neoplásica. A técnica usada envolveu inibidores da BCR-ABL-cinase existentes, para induzir uma remissão  profunda, seguida de um período de co-tratamento com um inibidor específico da via celular de células-tronco LMC, para erradicar o pool de células-tronco de LMC residual. Com essa técnica, confirmou-se a presença de células-tronco BCR-ABL-negativas que possuem assinaturas de expressão gênica distintas das células-tronco hematopoiéticas normais obtidas de doadores saudáveis. Essa população de células-tronco BCR-ABL-negativas demonstra evidências de eliminação facilitada pela inflamação do microambiente e a abundância dessa população em diagnósticos pode ser responsável pela falta de resposta molecular em maiores níveis, quando utilizada a terapia TKI.
A imagem mostra o paciente que consegue remissão profunda ainda tem uma subpopulação rara de células-tronco de câncer quiescente no diagnóstico que é expandida seletivamente durante o tratamento. Os autores também encontram células-tronco não cancerígenas, que mostram uma assinatura diferente. Em um paciente que experimentou progressão da doença após o tratamento, houve uma população distinta de células cancerosas pré- -progressivas presentes no diagnóstico, que evoluiu a aberrações genéticas adicionais e, assim, facilitou a resistência das células e a expansão seletiva durante o tratamento.

Assim, surge uma nova orientação ao desenvolvimento de estratégias de eliminação visando a esse grupo de células-tronco LMC residual. Essa descoberta pode expandir-se a estudos com outras doenças malignas, caracterizando os subgrupos de células-tronco cancerígenas, e designar melhores técnicas para apontar a razão da persistência e seu surgimento, além de maneiras de atenuar a resistência dessas subpopulações, o que se mostra mais um grande passo para o avanço no tratamento e possível cura dos diversos tipos de câncer.

Referências: Christopher A Eide & Brian J Druker; Understanding cancer from the stem cells up; disponível em <http://www.nature.com/nm/journal/v23/n6/full/nm.4353.html>; acesso em: 12 de junho, 2017.

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