Optogenética: uma nova luz para a ciência

Quando o time de Pesquisadores da Universidade de Stanford, liderado por Karl Deisseroth cunhou o termo optognética (optos, luz) ninguém imaginaria que a técnica que utiliza feixes de luz em comprimentos de ondas específicos para controlar processos celulares, iria ser tão potente.

Esquema ilustrativo de neurônios, principais alvos de estratégias de optogenética.
As primeiras técnicas de optogenética surgiram antes mesmo da criação do termo. Muito menos sofisticadas, as técnicas se limitavam a detecção de fluorescência, nada parecido com o que hoje sugere a técnica. Na atualidade, a optogenética avançou muito. Na última década, se desenvolveram muitas técnicas que fazem uso de ferramentas moleculares e de atuantes sensíveis a luz, que estimulam neurônios específicos que foram alterados geneticamente. Um estudo particularmente interessante foi esse:

·      Em 2005, Lima e Miesenböck, uma dupla de pesquisadores, conseguiu controlar, remotamente e de forma não invasiva, o comportamento de Drosophila (mosca da fruta) ao fotoestimular neurônios dopaminérgicos específicos moduladores de atividade locomotora visando controlar o padrão de voo. Para isso, expressaram em neurônios de dopamina, sob o controle do promotor do gene de tirosina hidroxilase (enzima envolvida na via de produção de dopamina), um canal catiônico não presente em Drosophila (purinoreceptor ionotrópico P2X2). Ao iluminar as Drosophilas, previamente injetadas com um ligante inerte sequestrado numa vesícula fotolábil, ocorreria então uma ativação dos neurônios geneticamente programados para expressar o receptor. Como resultado desta ativação específica, observaram-se alterações comportamentais nos padrões de atividade locomotora das moscas da fruta, tal como tentativa de voo ou fuga, bater de asas e saltos. De uma forma mais simplificada, usaram desencadeadores de potenciais de ação geneticamente codificados que funcionam de acordo com um mecanismo fotoquímico de chave e fechadura. Neste sistema, um potencial de ação é iniciado na presença de um flash de luz que vai estimular um agonista (chave) de receptores que vai levar à abertura dos respectivos canais num neurônio geneticamente modificado para expressar esses canais (fechadura). Este método revelou-se mais fácil de implementar e com uma maior resolução temporal devido à sua natureza ionotrópica e uso de apenas 2 componentes: o purinoreceptor ionotrópico e o seu agonista.

A cobaia com implante que envia luz em comprimento de onda específico para ativar uma região específica do cérebro em busca de efeito na resposta global do organismo, nesse caso, o padrão de movimento do animal.

Observando os avanços recentes da técnica, projetam-se perspectivas cada vez maiores sobre as possibilidades que poderão ser alcançadas num futuro próximo. Com esta técnica, talvez seja possível, um dia, entender como o cérebro humano funciona. O potencial de cura para doenças neurológicas, psiquiátricas, cegueira e muito mais pode estar atrás dessa estranha palavra. Palavra essa que os biotecnologistas podem até não conhecer agora, mas que usarão frequentemente em um futuro mais próximo que imaginam.

Fontes:
  1. Lima, S.Q.e G. Miesenbock. Remote control of behavior through genetically targeted photostimulation of neurons. Cell, 2005. 121(1):p.141-152. (Estudo citado)
  2. Optogenetics: Controlling the Brain with Light [Extended Version] Disponível em: <https://www.scientificamerican.com/article/optogenetics-controlling/> Acesso em: 18 maio 2017
  3. Eddy Krueger, Tiago Manczak, Edwing Martin Holguin Wilson, Wilson José da Silva, Percy Nohama. Optogenética e estimulação óptica neural: estado atual e perspectivas. Rev. Bras. Eng. Bioméd., 2012, vol.28, n.3, pp.294-307.




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