Pesquisas publicadas nas revistas Nature e Science focam no desenvolvimento de vacinas universais contra a gripe

Levando em conta os surtos de gripe em diversos locais do mundo, a OMS (Organização Mundial da Saúde) e o CCD (Centro de Controle de Doenças) e outras corporações desse âmbito decidem, todos os anos, que tipos de antígenos virais devem incluir no modelo de vacina. A natureza desse processo é baseada na criação de vacinas que tenham alvos especificados de acordo com as cepas e as linhagens virais que estão em alta. Tal especificidade dos alvos dessas vacinas convencionais é um revés na proteção contra cepas de vírus de procedência recente, pois, mesmo se derivarem de sorotipos que estão em circulação, como o H1N1 e o H3N2, estes têm uma alta tendência de sofrer mutação. No intuito de minimizar os efeitos desse problema, tanto a Science quanto a Nature publicaram artigos apresentando protocolos de desenvolvimento de vacinas que podem oferecer proteção contra uma variedade de sorotipos.

A ação das vacinas tende a ser mais eficiente quando colocado um tipo específico de hemaglutinina (HA), que vai sofrer a ação de anticorpos, os quais vão induzir a resposta imunológica. Essas estruturas consistem de dois domínios: uma cabeça globular, que garante a especificidade de cada vírus e uma espécie de talo, que é uma estrutura mais universal dentre os sorotipos, porém não oferecem uma resposta imune eficiente em humanos.

O interesse nos estudos desta última estrutura aumentou, quando alguns anticorpos mostraram se ligar e neutralizar uma ampla gama de tipos de hemaglutinina a partir do talo do vírus, abrindo portas para a possibilidade de criação de vacinas que potencializem a produção de tais anticorpos, oferecendo proteção a uma ampla variedade desses vírus.

Todavia, criar um modelo para essas vacinas é  bastante complicado. Ao retirar a cabeça globular, por exemplo, para deixar apenas o talo, a conformação do epítopo (menor porção do antígeno capaz de gerar resposta imune) seria bem instável. Nos artigos publicados, alguns dos autores descreveram uma engenharia em proteínas capaz de produzir versões de hemaglutininas estáveis, as quais tiveram bons resultados em animais.

No protocolo usado por um dos autores, utilizou-se um vírus do tipo H1N1 no desenvolvimento da vacina. Em resumo, a cabeça globular foi ligada ao talo a partir de um aminoácido glicina. Outros tipos de aminoácidos foram utilizados para aumentar a solubilidade e outros para elevar a estabilidade. Outras modificações foram realizadas, incluindo a nível de receptores, e a cada estágio o talo melhor desenvolvido era selecionado de acordo com a medição da resposta imunológica induzida por ele.

Quando testada em ratos, a estrutura do HA desenvolvida proveu quase proteção completa contra um vírus do tipo H1N1, mesmo depois de apenas 1 imunização. A hemaglutinina também apresentou resposta positiva contra o H5N1 e uma redução substancial dos sintomas conferidos pelo H1N1. Amostras in vitro mostram que os anticorpos produzidos em animais foram capazes de neutralizar diretamente o vírus e induzir outras respostas de cunho positivo, o que gera perspectiva de eficácia da vacina.

Outra autora dos artigos também revela que usou técnicas similares para selecionar os melhores talos, construídos em cada estágio de seu desenvolvimento. Depois do processo proposto de engenheiramento da proteína que define a hemaglutinina, a responsável utilizou uma técnica, que consistiu na fusão de uma porção de ferritina, encontrada na Helicobacter pylori (uma bactéria de alta resistência a meios ácidos), na hemaglutinina modificada, no intuito de induzir uma automontagem de nanopartículas. Quando testadas em ratos, uma grande resposta foi gerada contra várias cepas de H1, H2, H3, H5, H7 e H9; entretanto, a resposta de neutralização in vitro foi observada apenas para cepas de H1.

A base molecular para essa proteção é intrigante e os autores afirmam ainda estar na fase de especulações, porém foi possível observar que as construções dos talos com hemaglutinina (HA) podem ser estáveis e gerar resposta imunológica a uma gama de sorotipos, como foi observado na proteção dos ratos e macacos que foram postos em teste.

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